olha o boneco

O blog de fotografia do MEF-Movimento de Expressão Fotográfica

sábado

 

A Fotografia é necessária...???

"A Fotografia é necessária... Se ao menos se soubesse para quê?"

Com este encantador e paradoxal epigrama o fotógrafo parisiense Nadar, em 1866, resumiu ao mesmo tempo a necessidade da nova arte e seu discutível papel dentro da emergente sociedade Industrial.
A Modernidade adquiriu o hábito de tomar a fotografia como substituto do real e não como fotografia; como obra fotográfica; como construção imaginária e estética.
Nesse sentido, o advento da fotografia permitiu o questionamento da dogmática clássica, substituindo a "Arte Pura" pelo "Discurso da Arte", devidamente inserido dentro dos novos propósitos, gerados pelas novas demandas desse momento histórico.
A Fotografia antes de tudo é uma linguagem; um sistema de códigos verbais ou visuais; um instrumento de comunicação.
A primeira função de toda a linguagem é "significar", a segunda é "afirmar o eu" e a terceira é"comunicar".

Desde os primórdios, o homem se apodera da natureza transformando-a. O trabalho é a transformação da natureza. O homem sonha com um trabalho mágico de transformação, sonha com a capacidade de mudar os objectos e dar-lhes novas formas e sentidos por meios mágicos. Trata-se de um equivalente, na imaginação, daquilo que o trabalho significa na realidade; o homem, a princípio, apresenta grande paixão pelo fantástico.
O homem evoluiu por meio da utilização de ferramentas.
Ele se aperfeiçoou produzindo novos utensílios.
Não há ferramenta sem o homem e vice-versa.
Os dois passaram a coexistir, indissoluvelmente ligados uns ao outro.

A imaginação é a sua essência. Ela é tão importante para o domínio da arte quanto da própria natureza.
Criar, desde o momento em que homem se tornou homem, sempre foi, antes de tudo, uma necessidade vital: algo como respirar.
Com a Fotografia, pela primeira vez, a mão se liberou das tarefas artísticas essenciais, concernentes à reprodução das imagens que desde então foram apreendidas pelo olho fixado sobre a objectiva.

No advento da Fotografia já estava contido o germe do futuro cinema, da televisão, das imagens digitais, dos novos discursos visuais e de outras tecnologias que estão por vir. Inaugurava-se assim, o instrumento mágico capaz de produzir sonhos...

A Fotografia ressalta aspectos do original que escapam ao olho humano e só podem ser apreendidos por uma câmara que se mova livremente para obter diversos ângulos de visão.
Graças a procedimentos como ampliação, velocidades lentas e outros recursos técnicos, pode-se atingir realidades despercebidas por qualquer visão natural.
Seus recursos na reprodução de imagens são capazes de criar efeitos ou situações que não são percebidos na cena real. Seu poder de impacto permite maior aproximação da obra e do seu espectador.
A subjectividade que lhe é própria pode mentir, provocar, chocar, evocar sensações de movimento, odor, som. Proporciona prazer estético, e, também, manipular a opinião pública em favor dos interesses do próprio fotógrafo ou de seus clientes.
Toda arte é condicionada pelo seu tempo em consonância com ideias, aspirações, necessidades e esperanças de uma situação histórica em particular.
Mas ao mesmo tempo, a arte supera essa limitação e, dentro do momento histórico, cria também um momento de superação que permite continuidade no seu desenvolvimento.
O próprio fotógrafo exercita um trabalho intelectual. Raciocina, sente e produz por meio de seu intelecto criativo, padrão cultural, técnica e experiência de vida.

A boa fotografia é resultado de árduo projecto e não um mero "acidente fotográfico".
Ou, como afirma Henri Cartier-Bresson, "fotografar é reconhecer, ao mesmo tempo e numa fracção de segundo, um evento e a organização rigorosa das formas percebidas visualmente e que expressam esse evento. É reunir, no mesmo ponto de vista, a cabeça, o olhar e o coração".

A Fotografia é um dos inúmeros modos de divulgar cultura e produzir conhecimento. A obra do fotógrafo não necessita de discursos e, menos ainda, das justificativas de seu autor. Ela antes de tudo, informa, fala por si mesma... Ela é auto-suficiente... É coesa, objectiva, bem lapidada... Estéticamente perfeita... Dispensa, aliás, tais adjectivos ou outras atribuições.
Arte e Fotografia andam juntas. Estão em plena cumplicidade. Por mais que se queira apreender a realidade em toda a sua amplitude, qualquer tentativa técnica é parcial, mesmo porque cada um de nós a concebe e interpreta de modos distintos.
E tudo aquilo que não é real ou análogo, passa a estar a serviço das mitologias contemporâneas.
A imagem fotográfica não é, a princípio, uma forma de arte. Como linguagem, ela é o meio pelo qual a obra de arte é realizada. A Fotografia é sempre uma imagem de algo. Está atrelada ao referencial que atesta a sua existência e todo o processo histórico que o gerou.
Ler uma Fotografia implica reconstituir no tempo seu assunto, derivá-lo no passado e conjugá-lo a um futuro virtual. Assim, a linguagem fotográfica é essencialmente metafórica: atribui novas formas, novas cores e novos sentidos conotativos ou denotativos; comprova que a Fotografia não está limitada apenas ao seu referente.
Ela o ultrapassa na medida em que o seu tempo presente é reconstituído, que o seu passado não pode deixar de ser considerado, e que o seu futuro também estará em jogo. Ou seja, a sobrevivência de sua imagem está intimamente ligada à genialidade criativa e ao potencial cultural e intelectual de seu autor.
A mensagem fotográfica deve transpor sua condição documental, de verosimilhança e sempre transmitir algo mais forte, com maior impacto, que supere sua própria imagem.
A Fotografia, como toda arte contemporânea, pode ser e é uma ferramenta de percepção para transformar e abrir novos horizontes.

Prof. Enio Leite
Focus - Escola de Fotografia & Tecnologia Digital
www.focusfoto.com.br





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